Revista Avianca #44 Satisficing: a Fórmula do amor

Satisficing: a Fórmula do amor


Por Renata Maranhão para Avianca Em Revista #44


A mulher atravessou gerações lutando pela igualdade e liberdade sexual. Será que conseguiu? As ideias até que foram bem aceitas nos anos 60 pela geração paz e amor, conhecida por Flower Power, com a  deliberação feminina, a individualização dos comportamentos e o surgimento da pílula anticoncepcional. Mas há quem acredite que a sociedade vive hoje uma das maiores repressões sexuais femininas por conta da banalização da sexualidade. Sim, temos mais liberdade de experiência, menos repressão familiar e social e mais divórcio (afinal, “até que a morte os separe” virou sentença de prisão perpétua para muita gente). Com prazo de validade menor, os relacionamentos se tornaram mais intensos e mais vivos, mas as expectativas de sexo e amor continuam completamente diferentes para homens e mulheres. No início da Revolução Sexual ninguém pensou nas consequências e passadas mais de 4 décadas todos continuam meio perdidos com os papéis de cada um. O psiquiatra Flávio Gikovate comentou em entrevista recente o quanto é triste ver que os ideólogos daquela revolução estavam totalmente errados, pois a emancipação sexual aumentou a rivalidade e criou um clima de competição entre os homens e as mulheres. Afirmou que as grandes transformações estão ligadas à mudança no papel da mulher na sociedade e que a emancipação feminina ainda vai gerar uma série de desequilíbrios. Ainda vai gerar? Não é futuro não, Doutor. Está tudo acontecendo agora mesmo.

No universo feminino, onde tudo está interligado, a independência econômica da mulher estaria intimamente ligada à liberação sexual e ao sexo casual. Como se não depender financeiramente de um homem a liberasse de todas as amarras sociais. “Solteira sim, sozinha nunca” é o lema da bandeira levantada com muito orgulho e postada em redes sociais. Conquistar e namorar se tornaram verbos pouco usados hoje em dia, afinal a sequência dá trabalho e estamos na era do macarrão instantâneo: simples, prático e rápido. 

Se antigamente o homem lutava pela amizade da moça para então namorá-la, hoje o sexo faz parte do primeiro encontro, o chamado "sexo casual". Só que para a jovem, com toda sua modernidade, independência e liberalidade, ainda fica a expectativa frustrada do telefonema no dia seguinte, o que no final das contas, faz com que o sexo não seja tão casual assim para a mulher. O fato de serem mais livres não significa que perderam a vontade de serem especiais. Sim, toda regra há exceção e existem mulheres plenamente felizes neste contexto descompromissado. Só que é muito utópico acreditar que as normas e tabus simplesmente sumiram com o passar dos anos. A moral contemporânea continua sendo repressora, por mais que os moderninhos de plantão digam que não. De acordo com o sociólogo francês Michel Bozon, o inconsciente da sociedade continua com atitudes retrógradas, controladoras e repressivas e a busca do prazer sexual continua sendo alvo de condenação.  

Toda essa demanda de quereres e poderes levou a uma grandessíssima insatisfação. Uma fabricante de camisinhas nos Estados Unidos fez uma pesquisa que mostrou 50% das mulheres insatisfeitas com a vida sexual. O mesmo estudo foi repetido por 37 países, com 1.004 pessoas entre 18 e 65 anos. O resultado mostra uma insatisfação sexual de 51% dos homens e 56% das mulheres. E a Folha de São Paulo divulgou um estudo brasileiro em que 24% dos homens e 40% das mulheres são contra o sexo casual. Em uma conta burra, são cerca de 60 milhões de pessoas do nosso país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza contra o sexo casual. Surpreso?

No fundo, todos querem a mesma coisa: encontrar a alma gêmea. A ciência ainda não encontrou a fórmula do amor, mas muitos pesquisadores acreditam estar quase lá. O matemático e psicólogo Peter Todd, da Universidade Indiana (EUA), criou uma teoria chamada de "regra dos 12". Um algoritmo matemático que maximiza as chances de encontrar a alma gêmea e diminui os riscos de se dar mal. A ideia, baseada em um conceito chamado "satisficing" (mistura de satisfação com suficiente, em inglês), faz a melhor escolha entre opções limitadas. Pelas estimativas, 12 pretendentes são uma boa amostra.

Já que é pra ajudar, esqueça aquela máxima de que os opostos se atraem. Segundo pesquisadores da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, casais com personalidades parecidas são muito mais satisfeitos em seus relacionamentos. 

Ok, não devemos padronizar tudo, afinal, relações são imprevisíveis e se você obedecer a todas as regras, vai perder toda a diversão. Existem caminhos para deixar o relacionamento mais satisfatório, mas estes só funcionarão se o casal se dispuser a isso e respeitar as diferenças. A relação a dois é a formação de uma equipe, formada por pessoas com características diferentes com um bem comum. E jogar no mesmo time é muito mais gostoso.  

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